segunda-feira, 2 de junho de 2014

Descrição e uma morte

1ª Versão
Por Aluno 1


À noite, em casa, na rua. De dia, em casa, na rua. Não importa o lugar, o horário, o tempo.
Ouve-se “clac, clac, clac”. Nesse momento temos um quadro. Calçada irregular iluminada pelas luzes amareladas da cidade. É noite. Aproximadamente 23h. Usa um sapato preto de couro, bem lustro.
Deve estar indo a algum lugar. Um pé após o outro, ritmo apressado.  1-2, 1-2, 1-2.
O par de sapatos para.  Um ao lado do outro, mas logo recomeça.
Ao longe, outros pés surgem. Tênis velho, cadarço desamarrado e um furo no lugar onde fica o dedão. Você julgou mal, eu sei. Pensou que fosse um ladrão, eu sei.
Esqueci de citar, os pés do sapato giraram e tornaram a caminhar em direção ao tênis furado. Que não é tênis, é bota.
Daqui de baixo vejo tudo, todos os passos dados. Sou tão pequena e quase não notada. Estava situada no meio do percurso daqueles quatro pés. Do sapato e da bota. O pé levantava, eu via a sola. Um após o outro os pés ficavam cada vez maiores e barulhentos. “Clac, clac”. Minhas seis perninhas tremeram.
Olhei para um lado, olhei para o outro. Sapato, preto, sola marrom, número 40. Bota cinza, velha, desbotada, sola também marrom, número 36.
Perto de mim, tão perto. Minhas perninhas tremeram.
Perdi a noção do perigo.
Última vez que vi a sola marrom, número 40. Bem em cima do meu corpinho preto e minúsculo no chão.
Deu tempo de olhar para o lado e ver as botas paradas. Olhei para cima. O pé. Em cima de mim. 1, 2, 3. Descansou seus passos ali, e eu descansei minha vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário