domingo, 1 de junho de 2014

Instrução para varrer uma casa

1ª Versão
Por Aluno 6


Um, dois, um dois... esse é o compasso com o qual João conduz a parceira vassoura pelos cômodos da casa. Ele a faz levitar pela sala, quartos, cozinha, banheiro, assim como fazia com as amigas dançarinas dos salões nos tempos de juventude. Diferentemente daquela época, em que a dança só findava ao amanhecer, hoje, ela se encerra tão logo os parceiros cheguem ao local da casa onde se encontrem a pá de lixo e a lixeira, amigas inseparáveis da vassoura. Nesta coreografia diária os dançarinos assumem sempre a mesma posição: ele segurando firmemente o fino corpo de cabo de vassoura entre as duas mãos estando uma delas na parte superior e à outra um pouco mais em baixo a fim de manter um equilíbrio, enquanto ela fica com vasta a cabeleira negra mergulhada no chão a ser limpo.
Como se estivessem diante de uma grande platéia em um verdadeiro salão de dança a o bailado começa e a dama é conduzida ao movimento de um vai e vem repetitivo. Primeiramente, os movimentos são lentos, tímidos e inseguros, mas logo se tornam frenéticos e audaciosos levantando uma nuvem de poeira, que mais lembra fumaça em um incêndio, por todos os lugares onde passam. E assim vão os dois, atrelados como amantes, visitando cada cantinho da casa, assustando as plumas e sujeiras inimigas eternas do morador. Tal qual formigas ao redor de açúcar as adversárias capturadas vão sendo amontoadas em pequenos morrinhos dando passagem aos exibicionistas. Às vezes o ritmo é perdido e a vassoura voa nas mãos de João como balão perdido na ventania e espalha no ar as imundícies já acumuladas. Mas o incansável João não desanima e rapidamente retoma o costumeiro um vai e vem lento resgatando-as.

Chega-se, em fim, ao último cenário onde aguardam ansiosas para atuação a pá de lixo e a lixeira. Nestes últimos passos da dança a vassoura é conduzida até bem próxima à pá e mantendo aquele vai e vem do início de espetáculo empurra para cima dela as imundas inimigas conduzidas até ali com bastante cuidado para não mais escaparem. Somente quando toda a sujeira estiver encerrada na escuridão do fundo da lixeira é que João separa-se da parceira e delicadamente ele a deixa descansando a trás da porta ou pendurada em algum canto à espera da próxima valsa.

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