1ª
Versão
Por Aluno 6
Um, dois, um
dois... esse é o compasso com o qual João conduz a parceira vassoura pelos
cômodos da casa. Ele a faz levitar pela sala, quartos, cozinha, banheiro, assim
como fazia com as amigas dançarinas dos salões nos tempos de juventude.
Diferentemente daquela época, em que a dança só findava ao amanhecer, hoje, ela
se encerra tão logo os parceiros cheguem ao local da casa onde se encontrem a
pá de lixo e a lixeira, amigas inseparáveis da vassoura. Nesta coreografia
diária os dançarinos assumem sempre a mesma posição: ele segurando firmemente o
fino corpo de cabo de vassoura entre as duas mãos estando uma delas na parte
superior e à outra um pouco mais em baixo a fim de manter um equilíbrio, enquanto
ela fica com vasta a cabeleira negra mergulhada no chão a ser limpo.
Como se
estivessem diante de uma grande platéia em um verdadeiro salão de dança a o
bailado começa e a dama é conduzida ao movimento de um vai e vem repetitivo.
Primeiramente, os movimentos são lentos, tímidos e inseguros, mas logo se
tornam frenéticos e audaciosos levantando uma nuvem de poeira, que mais lembra
fumaça em um incêndio, por todos os lugares onde passam. E assim vão os dois,
atrelados como amantes, visitando cada cantinho da casa, assustando as plumas e
sujeiras inimigas eternas do morador. Tal qual formigas ao redor de açúcar as adversárias
capturadas vão sendo amontoadas em pequenos morrinhos dando passagem aos
exibicionistas. Às vezes o ritmo é perdido e a vassoura voa nas mãos de João como
balão perdido na ventania e espalha no ar as imundícies já acumuladas. Mas o
incansável João não desanima e rapidamente retoma o costumeiro um vai e vem
lento resgatando-as.
Chega-se, em
fim, ao último cenário onde aguardam ansiosas para atuação a pá de lixo e a
lixeira. Nestes últimos passos da dança a vassoura é conduzida até bem próxima
à pá e mantendo aquele vai e vem do início de espetáculo empurra para cima dela
as imundas inimigas conduzidas até ali com bastante cuidado para não mais
escaparem. Somente quando toda a sujeira estiver encerrada na escuridão do
fundo da lixeira é que João separa-se da parceira e delicadamente ele a deixa
descansando a trás da porta ou pendurada em algum canto à espera da próxima
valsa.
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