domingo, 1 de junho de 2014

Para abrir uma janela

Reescrita
Por Aluno 12



     Pode ser que se encontre em um quarto escuro como piche, a ponto de não ser possível ver as mãos ante o rosto; pode ser que o cômodo esteja apenas pouco iluminado, ou que não seja muito arejado. São variados os motivos e situações que podem resultar na necessidade de abrir uma janela, mas a esse ponto não importa mais como ali chegou, ou porquê. Para fazê-lo, é relevante apenas que se esteja próximo de uma janela, e que se possa remover tudo o que se encontra entre o lado de dentro e o que está lá fora.
     A dita janela pode estar coberta por persianas, os primeiros obstáculos, e essas por sí só podem ter diferentes meios para manterem-se fechadas. Algumas possuem trincos que podem ser abertos, às vezes com um único giro do pulso e outras vezes necessitam de um trabalho complexo como a resolução de um cubo mágico para que finalmente cedam. Outras persianas podem ser abertas por meio de uma cordinha, que ao puxada faz com que a persiana se enrole – se este for o caso, deve-se aplicar certa força à corda, tal qual faria alguém que estivesse passando sede, e puxá-la pudesse erguer o balde de um poço de água. É possível optar por parar aqui o processo – mas pode ser, também, que se esteja mesmo com sede: sede de luz, de ar, da visão do exterior.
     Nessa fase, começa-se a saciar essa sede, pois a muralha que impedia a visão do outro lado terá sido removida e a luz poderá entrar. Talvez se possa observar a poeira flutuar em luz dourada, se por aquela janela se infiltrarem raios de sol, mas se o tempo for chuvoso, será possível apostar nas corridas que as gotas de chuva costumam fazer contra o vidro da janela. À contemplação segue-se a decisão final: deslizar ou não o vidro para o lado, erguê-lo ou não.

     Pode-se por as mãos sobre o vidro e empurrá-lo para o lado – nele talvez fiquem as marcas das mãos que o tocaram – e ao transpôr essa barreira transparente para o que existe do outro lado da janela, convida-se o que quer que esteja lá fora a entrar. As gotas de chuva poderão vir apostar corrida no assoalho e o vento, passear por entre os móveis. Pode-se permitir aos olhos, do lado de dentro que passeiem do lado de fora, que se deleitem com o desfile de carros, rostos, cores que o vidro e a persiana ocultavam. O que antes era fora transforma-se em parte do lado de dentro quando entra flutuando pela janela, agora aberta. O interior e o exterior se misturam como dois rios que fluem na mesma direção, formando um único rio que pode, enfim, matar a sede que se tem – sede de luz, de ar.

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