domingo, 18 de junho de 2017

Como comecei a escrever.

Aluno 169
Reescrita


Na infância, entre meus 3 e 6 anos, a escrita para mim, não era considerada importante. Eu não tinha o entendimento de que, naquela faixa de idade, eu deveria saber escrever. Pois assim como a maioria das crianças de mesma idade que eu conhecia, meus interesses se limitavam a brincar no pátio de casa, pintar livros de colorir e assistir a desenhos animados na televisão, afinal, essas eram atividades que me proporcionavam diversão.
Quando iniciei a pré-escola, fui apresentado a muitas novidades no primeiro dia. A principal delas, foi quando tive meu primeiro contato com o profissional que, a partir daquele momento, seria a entidade superior que eu mais deveria respeitar a partir de meus pais, o professor; nesse caso, professora, que foi a responsável por me ensinar as primeiras letras do alfabeto. Apesar de meu medo inicial, pois era um ambiente no qual eu ainda não estava acostumado, me senti confortável no final do primeiro dia pré-escolar, já que meu nervosismo desapareceu após a turma realizar diversas atividades dinâmicas, em que a interação com os colegas era fundamental para a adequação naquele primeiro momento no âmbito infantil.
Nessa mesma semana, meu principal aprendizado até aquele momento acabara de acontecer: fui ensinado a identificar, pronunciar e escrever as letras do alfabeto. A professora pediu para que todos os alunos tentassem escrever o primeiro nome de seus pais em seus cadernos, simplesmente usando a intuição e o nosso ainda pequeno conhecimento, afinal, naquele momento, ainda não havíamos aprendido a formar sílabas. Me arrisquei iniciando pelo nome de meu pai. Acertei. Já no de minha mãe, não tive muito sucesso. Eu lembrava de parte das letras que deveriam ser utilizadas na composição de cada nome, pois, na geladeira da minha casa, haviam ímãs nomeados com cada integrante da família, juntamente com uma figura de um personagem de desenho animado os representando. Infelizmente, nem todas as letras eu consegui lembrar, e outras eu adicionei sem saber que estavam erradas. Apesar de Artur ter se mantido Artur, Magda tornou-se Miúda, para o divertimento de minha professora, que gargalhou tendo ciência do meu inocente equívoco.
A partir desse meu primeiro erro gramatical, eu comecei a desenvolver um pensamento sobre a importância da escrita. Embora, nessa fase inicial, eu ainda não soubesse por qual motivo eu deveria saber escrever, eu tive a certeza de que meu simples erro não deveria voltar a se repetir, mas poderia fazer com que eu buscasse novos nomes para aprender e fazer da escrita parte dos meus interesses que me proporcionavam diversão, assim como brincar no pátio de casa, pintar livros de colorir e assistir a desenhos animados na televisão.

Parecer_Aluno169

Proposta 1


Perceba que seu texto não cumpre com a proposta temática que é “como aprendi a escrever”. Você fala sobre a importância da leitura para o processo de escrita e conta sobre algumas experiências de produção da escrita, no entanto de forma bastante pincelada. Sugiro que você escolha um fato principal do seu texto e desenvolva mais sobre ele ao longo da escrita. É necessário que exista um tema que oriente o leitor em torno do qual se relacionam eventos secundários.
Você também deve lembrar, ao reescrever, de outras duas qualidades discursivas: a concretude e a objetividade. Ao longo do seu texto é bom que você traga exemplos concretos de fatos que ocorreram com você, assim o leitor consegue criar uma imagem do seu texto. Tenha também em mente a ideia de que o texto deve provocar um questionamento ao leitor, para que o ele se sinto convocado a participar de uma solução de uma questão trazida por você, autor, no início do texto.
Ademais, relembre algumas questões formais do texto, como formatação de parágrafos e pontuação.
Boa reescrita!


Como comecei a escrever.

Aluno 169
1 Versão


Na infância, eu tinha o hábito de ler livros infantis antes de dormir. Infelizmente, após essa fase ter terminado, não dei continuidade na leitura destinada a livros de meu gosto, apenas a livros relacionados ao conteúdo da escola onde eu estudava. A leitura é importante para desenvolver uma boa escrita, pois adquirimos conhecimento ao observar a forma como as palavras são apresentadas a nós, sejam sintaticamente, sejam gramaticalmente. Quando mais jovem, eu escrevia apenas para completar meu caderno de aula e para fazer trabalhos escolares. Esse padrão manteve-se até eu iniciar a fase adulta, que aconteceu justamente quando retornei  ao meu antigo hábito de ler por lazer. Logo que retomei a leitura, percebi que estava mais apto a escrever, mesmo que fossem poucas palavras. Iniciei de forma ''oficial'', ou seja, colocar no papel assuntos que saíam da minha própria mente, e não apenas copiar textos de um quadro, quando escrevi a primeira vez sobre meus sentimentos, após uma situação envolvendo pessoas próximas a mim. A partir disso, comecei a produzir redações sobre diversos temas, apesar de ter bastante dificuldade na escrita por diversos motivos, como escrever sobre um tema o qual não conheço o suficiente, e também por não conseguir organizar minhas ideias suficientemente bem a fim de colocá-las no papel. Dito isso, percebo que a escrita e a leitura estão sempre juntas, por isso ''aprendi'' a escrever apenas após eu tornar a leitura uma rotina no meu modo de viver.

SOBRE BANDEJAS E COSTUMES

Aluno 167
Reescrita


Sair para passear e acabar por fazer alguma refeição fora de casa é bastante comum, é um hábito de muitas pessoas, inclusive do Thiago, um rapaz de vinte e poucos anos e morador da cidade de Porto Alegre. Ele tem esse costume há bastante tempo e, após nos conhecermos, passei a acompanhá-lo em seus passeios. No entanto, Thiago fazia algo que era um problema, na minha percepção: após comer ele deixava sua bandeja na mesa em que estava situado, não carregava para o local certo.
            Deixe-me explicar: o ambiente mais frequente para esses programas é o shopping, pelo motivo de centralizar várias opções de comida em um espaço que não exige grandes deslocamentos. Nesses shoppings toda alimentação é servida em bandejas que devem ser devolvidas aos restaurantes de origem e, para que se mantenha a organização, existem terminais onde essas devem ser colocadas. Após serem deixadas no lugar correto, os funcionários encarregados dessa função as recolhem e as entregam aos restaurantes.
            Sobre essa organização do ambiente Thiago tinha uma opinião muito clara, afirmava que era tarefa dos funcionários recolher as bandejas das mesas, limpá-las e devolvê-las aos restaurantes. Por diversas vezes o perguntei se em casa deixava o prato sobre a mesa para que alguém recolhesse e ele respondia: “a diferença é que aqui no shopping eles são pagos para isso”. Isso se repetia em todas as vezes em que saíamos para almoçar ou jantar, era sempre o mesmo dilema. Eu o pedia para levar, afirmando que era apenas uma questão de educação e ele recusando-se com o mesmo pensamento.
            Em um certo dia, após terminarmos a refeição, começamos a discussão de sempre. Pedi para que levasse, afirmei que nada de ruim o aconteceria se tivesse essa atitude e me ofereci para acompanhá-lo. Depois de muita conversa e insistência minha, finalmente, ele resolveu levar a sua bandeja ao terminal, mesmo que meio – talvez bastante – contrariado pela minha persistência. Caminhamos até o terminal e ele deixou sua bandeja. Nesse mesmo instante em que soltou a bandeja, uma moça que trabalhava no local o olhou com um sorriso no rosto e disse: “muito obrigada, facilita meu trabalho”. Ele ficou bastante surpreso, isso estava bastante perceptível em seu semblante, e olhou-me sorrindo. Após esse ocorrido, ficou falando sobre isso por dias, comentando com as outras pessoas e afirmando que faria isso sempre a partir daquele momento.
            Depois desse episódio, parei para refletir no quão importantes são as pequenas atitudes na vida de alguém que trabalha nessa função. Eu tinha o hábito de levar a bandeja apenas como reflexo do que fazia em casa, uma das faces da educação que recebi. Claro que eu sempre fiz isso pensando em facilitar a vida daqueles que trabalham nesses locais, no entanto, nunca pensei que fosse um ato de real importância já que poucas pessoas fazem isso, acreditava ser algo realmente ínfimo. Como consequência disso, segui levando minha bandeja aos terminais e incentivando quem quer fosse a fazer o mesmo. Se isso torna o trabalho de alguém mais fácil, por que não fazer?   

Parecer_Aluno167

Proposta 2


Você inicia o texto, e segue durante os três primeiros parágrafos, mostrando ao leitor como lida com o costume de levar à bandeja ao terminal da praça de alimentação.

No quarto parágrafo surge um “problema” mostrado ao leitor: seu companheiro não tinha o mesmo costume. Note que o fato que lhe gera algum aprendizado é destacado apenas no quinto parágrafo do texto. A conclusão então se baseia nesse fato.

Sugiro que você pense no texto como a narração de uma história. É muito importante, claro, que você explicite ao interlocutor seus pontos de vista e o que fez com que o fato ocorresse. No entanto, fique atenta à proposta: narrar um fato, ocorrido com alguém, que lhe gerou um aprendizado.


Minha sugestão é, então, que você priorize as informações que façam o leitor visualizar como a atitude do seu companheiro lhe gerou um aprendizado. Ou seja, conte mais sobre a história do dia em que ele resolveu levar a bandeja até o terminal - fazendo você chegar à conclusão de que sua atitude era importante. As informações relevantes são, portanto, as que referem-se ao acontecimento em si; outros fatos são secundários. Boa reescrita!

SOBRE BANDEJAS E COSTUMES

Aluno 167
1 Versão


Já faz algum tempo, uns três anos aproximadamente, que desenvolvi o hábito de passear por shoppings aos finais de semana. Por mais irreal que possa parecer, eu sempre tenho algo a fazer por lá, seja comprar algum livro, uma peça de roupa ou simplesmente passar pela praça de alimentação. E foi nessa última situação que aconteceu o fato que salientarei aqui.
            As praças de alimentação dos shoppings são compostas por vários restaurantes, um ao lado do outro, e várias mesas e cadeiras dispostas pelo ambiente. Cada restaurante possui suas louças e bandejas para entregar as refeições aos clientes e existem vários lugares – como se fossem uns terminais – para colocar esses utensílios usados. Além disso, nessas praças também existem pessoas encarregadas de manter a limpeza do local. Logo, na maioria das vezes, são esses funcionários que recolhem e entregam as bandejas aos seus lugares de origem.
            Eu sempre tive o costume de deixar minha bandeja em um desses terminais para que o funcionário apenas leve ao restaurante de origem. Isso é um hábito que sempre carreguei comigo, pelo mesmo motivo que em casa não deixo meus pratos na mesa para que alguém os retire. Acredito que isso é o princípio da educação.
            No entanto, meu companheiro tinha um pensamento bastante diferente do meu. Ele acreditava que as pessoas que trabalhavam ali estavam sendo pagas para recolher as bandejas das mesas, limpá-las e entregá-las aos seus devidos lugares. Então, quando saíamos para comer era sempre o mesmo dilema: levar ou não levar bandeja? Eu sempre insistia muito porque recusava-me a acreditar que a ideia dele era adequada. E ele, muito contrariado, levou algumas vezes.
            Saímos por mais umas vezes e a tensão do dilema mantinha-se. E, em uma dessas saídas, após muita insistência de minha parte – novamente – ele levou a bandeja até um terminal próximo de onde estávamos. Assim que a largou, uma moça que trabalhava no local olhou para ele com um sorriso no rosto e disse: “muito obrigada, facilita meu trabalho”. Ele ficou surpreso e olhava-me com entusiasmo.
            Depois desse episódio, parei para refletir no quão importante a minha atitude era na vida de alguém. Eu tinha esse comportamento apenas como reflexo do que fazia em casa, uma das faces da educação que recebi. Claro que eu sempre fiz isso pensando em facilitar a vida daqueles que trabalham nesses locais, no entanto, nunca pensei que fosse um ato de real importância já que poucas pessoas fazem isso, acreditava ser algo realmente ínfimo. Como consequência disso, segui levando minha bandeja aos terminais e incentivando quem quer fosse a fazer o mesmo. Se isso torna o trabalho de alguém mais fácil, por que não fazer?

Parecer_Aluno141

Proposta 1

141, toma cuidado para algumas partes do teu texto não virarem apenas uma listagem de memórias! É muito legal a tua reflexão sobre os teus diários, e sobre essa tua relação íntima com a escrita. Aposta nestas reflexões para construir melhor o teu tema central e utiliza as memórias como subsídio ao teu tema, com dados mais concretos para o leitor que não te conhece.
            O teu texto pincela sobre um possível antagonismo daquela escrita companheira e intimista dos diários e aquela escrita rígida do teu trabalho. Será que é legal explorar melhor essa ideia? Utiliza exemplos, fatos e imagens concretas para te auxiliar e dar autonomia ao teu texto! Costura teus parágrafos através de um argumento que segue ao longo do texto, convidando o leitor a seguir junto.
            Fiquei curiosa sobre o teu processo com as “temidas críticas”, não achas que é um argumento a ser melhor explorado no texto? Acabastes falando nisso apenas no finalzinho. Utiliza o final da tua história para fechar a argumentação proposta ao longo do texto, e cuida para não introduzir ali novas histórias. Finaliza o teu texto com calma.
            No que diz respeito aos aspectos formais, observa a última frase do penúltimo parágrafo: a ordem da oração pode ser modificada para melhor compreensão: ter que expor meus pensamentos de forma tão franca foi uma forma de abrir os horizontes.

            Aproveita a arte de escrever, que envolve muitas releituras e reescritas! 

Como comecei a escrever

Reescrita
Aluno 141


As memórias mais marcantes dos meus primeiros anos de vida foram passadas no último corredor da biblioteca do colégio em que cursei o ensino fundamental. Na época, eu tinha duas amigas muito próximas que compartilhavam o gosto pela leitura. Foi, provavelmente, em função dessas amizades que minha intimidade com os livros se fortaleceu. Nós éramos três meninas auto-intituladas donas do corredor da biblioteca, aquele entre os Atlas e os gibis, em que ninguém mais podia entrar sem a nossa permissão. Nesse universo de menos de dois metros quadrados, eu aproveitei os intervalos das aulas em busca de histórias que naturalmente me guiaram para a escrita. As amizades podem não ter sobrevivido ao fim do ensino fundamental, mas os hábitos das três meninas sentadas no chão com as pernas cruzadas continuaram vívidos.          
            Aos meus dez anos de idade eu já tinha lido livros o suficiente para compreender o poder de recordação existente na palavra escrita. Eu comecei a escrever em cadernetas e escondê-las para que as outras pessoas não tivessem acesso aos meus escritos. Por ter sido uma criança tímida, encontrar no diário uma figura ouvinte sem voz crítica me era extremamente reconfortante. Meus sentimentos eram tão claramente expostos nas páginas dos cadernos que minha mãe, receosa pelo comprometimento gerado pelas minhas palavras, chegou em uma ocasião a pedir encarecidamente para eu jamais levasse o meu diário para a sala de aula.
            Com o tempo, a brincadeira se tornou rotina para organizar as minhas emoções. Meus hábitos de escrita foram ficando cada vez mais exigentes: eu só conseguia escrever de noite, à mão e, preferencialmente, em dias chuvosos. Para a loucura de minha mãe, criei o gosto por recolher todas as almofadas do sofá de casa, espalhar pelo chão da sacada e ficar ali, escrevendo ao observar o movimento das pessoas pelas ruas de meu bairro.
            A escrita permaneceu como uma companheira necessária para compreender a realidade ao meu redor. Porém, nossa relação foi pouco a pouco sendo minada pelas exigências do escrever correto e padronizado. Eu cresci e comecei a trabalhar na área jurídica, imaginando que a minha cumplicidade com a escrita fosse me auxiliar nessa carreira. Logo na primeira semana, um dos meus colegas de trabalho me olhou torno ao descobrir o nome do meu supervisor. "Ele é cricri com a escrita", comentou com desgosto.
            Com o tempo, não só descobri ser verdadeiro o comentário, como também percebi não ser de todo ruim o perfeccionismo exigido. Meu chefe tinha o cuidado de sempre entregar meus pareceres repletos de comentários sobre a forma como eu escrevia e, consequentemente, aprendi muito no processo de reformulá-los. Mesmo assim, existia muito naquela escrita técnica e inflexível que me perturbava. Eu tinha vários papéis presos na parede em frente ao meu computador com palavras que eu estava proibida de utilizar nos pareceres por serem consideradas "feias". Sentia falta da escrita despretenciosa de meus diários, por isso, como refúgio nos meus dias mais cansativos, despia-me do formalismo nas folhas do diário que não se dirigia para ninguém se não a mim mesma.
            Em uma tentativa de resgatar a cumplicidade existente entre mim e a escrita, larguei o trabalho que ceifava as minhas palavras e matriculei-me em uma cadeira de escrita criativa. Durante as aulas, nós éramos convidados a projetar nossas criações para os demais presentes. Como primeira proposta, nós tivemos que transformar um texto não-literário em um texto literário. Eu projetei o meu texto e não tive a melhor das respostas. Entretanto, eu havia reencontrado em um contexto de coletividade a minha intimidade com a escrita, antes exercida somente por meio dos diários. Para alguém que via no escrever um processo intimista, ter que expor meus pensamentos de forma tão franca foi uma forma de abrir os horizontes.  
            Provavelmente, eu ainda vou colocar o meu velho diário na mochila ao arrumar meus materiais para ir à Universidade. Contudo, agora procuro na escrita um processo de constante aprimoração que não pode ser alcançado sem as temidas críticas com as quais aprendi a conviver por meio dos comentários de meu chefe e colegas. Se a maturação do meu relacionamento com a escrita me ensinou algo, é que meus escritos devem sair do fundo da gaveta e ganhar vida pelos olhos dos leitores.  

Como comecei a escrever

1 Versão
Aluno 141


Eu tinha seis anos na época em que fui introduzida ao mundo das letras, na primeira série escolar. As memórias mais marcantes daquele e dos anos seguintes foram passadas no último corredor da biblioteca do colégio em que cursei o ensino fundamental. Para a criança que aproveitava o tempo livre entre as aulas procurando histórias sobre bruxos, fantasmas e vampiros, a escrita surgiu naturalmente como parte essencial de seus dias.
            Ainda durante minha infância, comecei a escrever em cadernetas e escondê-las para que as outras pessoas não tivessem acesso aos meus escritos. Eu sempre arranjava meios de comprar cadernos de anotações de todos os tamanhos, cores e gramaturas, e recheava-os de comentários sobre meus dias. Brincar de escrever em cadernos que os adultos não poderiam ler permitia que eu exacerbasse meus sentimentos nas folhas de papel com um tom de mistéro que somente as crianças conseguem entender.  
            Com o tempo, a brincadeira se tornou rotina para organizar as minhas emoções, fazendo com que mesmo depois de ter virado adolescente os diários ainda se misturassem com os livros na estante do meu quarto. Durante uma fase de tantos aprendizados e novas experiências como a adolêscencia, a escrita foi uma companheira necessária para compreender a realidade ao meu redor.     
            Quando atingi a idade necessária e comecei a trabalhar, a escrita virou parte obrigatória das minhas tarefas diárias. As palavras rígidas e formais eram as únicas proferidas nos pareceres técnicos e inflexíveis exigidos pelos meus chefes. Como refúgio nos meus dias mais cansativos, despia-me do formalismo nas folhas do diário que não se dirigia para ninguém se não a mim mesma.
            Na primeira oportunidade que tive, larguei o trabalho que ceifava as minhas palavras e matriculei-me em uma cadeira de escrita criativa. Durante as aulas, nós éramos convidados a projetar nossas criações para os demais presentes. Por um lado, eu reecontrei a possibilidade de trabalhar com as palavras de forma livre; por outro, precisei aprender a ouvir críticas de uma forma bastante detalhada sobre como escrevia. Para alguém que via no escrever um processo intimista, foi uma forma de abrir os horizontes ter que expor meus pensamentos de forma tão franca. 
            Daí por diante as tentativas de aprimorar minha escrita foram somadas ao ingresso no curso de Letras da UFRGS. Provavelmente, eu ainda vou colocar o meu velho diário na mochila ao arrumar meus materiais para ir à Universidade. Contudo, agora procuro na escrita um processo de constante aprimoração que não pode ser alcançado sem as temidas críticas com as quais aprendi a conviver.  

segunda-feira, 5 de junho de 2017

O cliente nem sempre tem razão

Aluno 172
Reescrita


Sabe quando você vai a algum restaurante, ou qualquer estabelecimento do gênero, está com pressa ou, simplesmente, com muita fome, e o seu pedido demora um pouquinho a mais do que o esperado? É irritante, não é mesmo? Eu sei, todo mundo se sente incomodado com isso. Acredito que seja uma reação completamente normal. O que, no entanto, na grande maioria das vezes, não é normal, é a maneira como as pessoas expressam seu aborrecimento. Eu costumava pensar que o cliente sempre tinha razão, mas eis o que me fez refletir mais sobre essa questão:

No início de 2015, consegui um novo emprego. Não era exatamente o emprego ideal, mas algumas oportunidades você não pode simplesmente recusar - principalmente quando você desesperadamente precisa de dinheiro. Mas enfim, essa história não é sobre mim, e sim sobre as pessoas que conheci neste lugar. Cabe dizer que trabalhei em um bistrô, localizado na rua Ramiro Barcelos, em Porto Alegre, e que meu cargo era de barista, sendo eu encarregada de preparar os cafés e as bebidas, no geral. Gisele, mais conhecida como Gi, foi incumbida a me ensinar a efetuar minhas tarefas, e mesmo após eu ter aprendido, estava sempre disposta a auxiliar-me. Ela era, sem dúvidas, uma ótima colega e profissional.

Gisele tinha 34 anos e trabalhava naquele estabelecimento desde a sua inauguração, há cerca de cinco anos. Ela viveu todas as mudanças daquele lugar e conhecia e tratava os consumidores com um carisma sem igual. Gi era uma espécie de “faz tudo”, atendia os fregueses nas mesas e também trabalhava dentro da cozinha, quando necessário, mas seu foco era lidar com o público. Algumas pessoas frequentavam o local há tanto tempo que, ao chegarem e serem atendidas por ela, apenas diziam, com um sorriso, que gostariam de pedir “o de sempre” e, pasmem, ela sempre sabia do que se tratava! Era uma típica cena de filme, e eu sempre ria, observando de longe.

No entanto, apesar de, normalmente, ser um ambiente tranquilo, trabalhar com o público nunca é uma tarefa fácil e logicamente havia momentos estressantes: troca de pedidos e cancelamentos de última hora; reclamações sobre alguma comida ou lanche possuir ingredientes que o cliente não gosta - mesmo que ele não tenha avisado para prepararmos sem; pedidos sendo entregues na mesa errada; e, por último, mas não menos problemático, os ocasionais atrasos.

É fato que qualquer unidade bem sucedida, que trabalhe com alimentos, vai estar cheia no horário de almoço. Durante esse período, raramente tínhamos mesas vagas por mais de 10 minutos. Eram muitas pessoas e muitos pedidos, e algumas delas não faziam questão de se retirarem assim que terminavam a sua refeição, o que é completamente aceitável, logicamente. Em um certo dia, todavia, isso se tornou um problema.

Era mais um dia comum de corre-corre, o bistrô estava lotado e todas nós estávamos muito ocupadas e bastante apressadas para atender a todos. Gi e Luciana, nossa outra colega, caminhavam de um lado para o outro, entregando e anotando novos pedidos, quando entrou um senhor robusto e parou no meio do salão, inspecionando o lugar. Percebendo não haver nenhuma mesa, ele chamou Gisele, enquanto essa passava com uma bandeja apinhada de louças, em direção a cozinha. Indagou, já perecendo irritadiço, sobre haver ou não um lugar para ele sentar. Ela explicou que ainda não havia nenhuma mesa disponível, mas indicou as poltronas que o local possuía, caso ele estivesse disposto a esperar uns instantes. Mesmo parecendo um tanto contrariado, ele acabou aceitando. Saiu a passos sem nem dar uma chance para que ela perguntasse se ele já gostaria de pedir algo.

Ao chegar à cozinha com as louças, para seu espanto, o caos já estava instaurado. Um acidente havia acontecido e a última porção de peixe teve de ser posta no lixo. Seria necessário falar com a cliente e torcer para que ele aceitasse outro acompanhamento. Gi, conformada, dirigiu-se até a mesa e explicou-lhe a situação. A moça, mesmo parecendo um pouco incomodada, fora bastante compreensiva; como sempre, Gi tinha um jeitinho especial de conversar com os clientes. O problema inteiro, contudo, fora aquele senhor, que estava sentado bem perto, nas poltronas, e ouvirá toda a conversa. Por algum motivo sem sentido, ouvir aquilo despertou a sua ira. Em um instante ele estava se prostrando de pé e instigando a cliente tranquila a não aceitar aquele “ultraje”, pois nenhum dos dois merecia ser “tratado daquela maneira” e “esperar uma eternidade”.
Gisele, por um momento, entrou em pânico. O senhor estava praticamente gritando, o que atraiu a atenção do local inteiro para eles. A moça se prontificou a ajudá-la, mas antes que Gisele pudesse dizer alguma coisa ao rude senhor, Cleice, nossa gerente, já estava ali e a partir daí, tomou conta da situação. Para a surpresa de todos, logo mais o homem foi convidado a se retirar. Apesar de Cleice sempre tentar agradar aos clientes o máximo possível, ela não achava admissível grosserias com as funcionárias. E ainda que havia sido Cleice a ter me dito, incontáveis vezes, que o cliente sempre tinha razão, ela mesmo mostrou-me que isso não era verdade, pois para tudo havia uma exceção. Percebi que este era um ensinamento para levar além do meu local de trabalho, pois jamais devemos tratar alguém como não gostaríamos de sermos tratados e ser compreensível nesse tipo de situação é mais do que fundamental. Acidentes ocorrem a todo momento e não cabe a nós agirmos sem levar isso em conta, como se cada eventualidade fosse um insulto direcionado diretamente a nós por algum motivo especial ou má vontade.

Parecer_172

A proposta dessa tarefa é que você descreva um fato ocorrido com alguém e que lhe
gerou um aprendizado. Note, no entanto, que você narra um acontecimento vivenciado por
você, destacando as atitudes de outra pessoa. Minha primeira sugestão, então, é que você
pense nessa tarefa como a narração de uma história que aconteceu com alguém, que outra
pessoa viveu, e que lhe fez aprender com isso.

Vejamos, os quatro primeiros parágrafos traçam características do seu amigo
Eduardo, que parece ser o personagem principal da história que será narrada. Os três últimos
parágrafos, então, tratam do acontecimento marcado pelas mentiras de Eduardo, mas ocorrido
com todos vocês (Eduardo, você e seus amigos). Se você pretende manter a ideia de que
aprendeu com as mentiras de Eduardo, eu diria para que selecionasse algum acontecimento
que pode contar ao interlocutor como (mau) exemplo de atitude do seu amigo num momento
vivenciado por ele.

Pareceu-me que você gosta de contar histórias e tem a preocupação de trazer
informações concretas para que o leitor visualize a mensagem que quer passar – isso é muito
importante – no entanto, sugiro que repense se tudo que traz ao leitor é relevante. Veja bem, é
muito interessante que você traga detalhes, por exemplo, sobre o personagem, mas note que a
história demora a ser narrada, isso pode fazer com que a unidade narrativa e a objetividade se
percam. Sugiro que você invista mais em detalhes sobre o tempo que se passa a história, o
lugar em que se passa e que construa o personagem ao longo do enredo; ao passo que narra a
história.

Assim, minhas sugestões – e apenas sugestões – referem-se à história narrada e à
quantidade de informações. Destaco que é muito interessante ler seu texto, há um convite
para que o leitor vá até o final; queira entender o que aconteceu. Acredito que seria melhor
ainda se você mudasse o foco do evento narrado para algo ocorrido com outra pessoa e
investisse em dados que sirvam para ilustrar esse acontecimento, sem dispersões.
Boa reescrita!



A mentira tem perna curta

Aluno 172
1 Versão


Todos aprendemos, desde muito cedo, que não devemos mentir. Creio que seja um dos primeiros ensinamentos que os pais visam passar aos seus filhos: a mentira é errada; a mentira traz consequências; a mentira não vale a pena. Entretanto, eventualmente as crianças aprendem que distorcer a verdade, muitas vezes, tem suas vantagens e algumas delas acabam tornando essa prática um diabólico hábito. Meu amigo, Eduardo, foi um desses casos.
Eduardo era um menino comum de 13 anos: hiperativo, magrelo e possuidor de um apetite voraz. Sendo o mais velho do nosso quarteto de amigos, ele consequentemente tomou para si um certo posto de liderança: estava sempre apto a sugerir as brincadeiras mais arriscadas e tomar a frente para executá-las. Sem dúvidas, o fato de ser o mais velho entre nosso pequeno grupo, que se constituía dele, de um menino de 12 anos e duas meninas de 11, contando comigo, definitivamente tinha certa influência; sua imaginação absurdamente fértil, contudo, foi certamente o aspecto que mais nos estimulava a segui-lo.
Essa criatividade toda, no entanto, não era usada somente para impressionar sua pequena platéia particular. O garoto adquiriu um dom especial de inventar as desculpas mais oportunas para os mais diversos momentos. Toque de recolher nos finais de semana? Nem pensar, ele sempre arrumava uma razão convincente o suficiente para que sua mãe estendesse o prazo por, pelo menos, mais uma hora. Uma prova para o qual ele não ele estivesse preparado? O espertinho certamente não iria a aula e inventaria a história trágica mais persuasiva possível, convencendo qualquer professor a permitir que ele fizesse a avaliação na semana seguinte. Levar a culpa por comer os doces da irmã mais velha? Jamais, ele sempre conseguia se safar da punição, deixando a irmã caçula, consequentemente, em maus lençóis. Ainda assim, esse comportamento não era exatamente visto como algo fora do normal ou altamente prejudicial. Não obstante, mais cedo ou mais tarde, a situação sairia de seu controle.
Assim como Ícaro deslumbrou-se com a possibilidade de voar e agiu de forma insensata, ao ponto de perder suas asas, Eduardo também ultrapassou os limites do bom senso a partir do momento que começou a mentir e elaborar desculpas para praticamente todas as circunstâncias, das mais banais às mais sérias, tudo para conseguir o que desejava. Inevitavelmente, ele também perderia suas asas e encararia as consequências. Eis a primeira vez que isso ocorreu:
Era o auge do verão e estávamos todos de férias. Depois de passarmos os últimos dois dias de chuva, trancados dentro de casa, finalmente nos reunimos, prontos para aproveitarmos aquela tarde. É preciso explicar, de antemão, que nosso quarteto de amigos tinha algumas peculiaridades, uma delas era a de chamar de “missão” nossas atividades mais aventurosas. A proposta do dia era que atravessássemos a Chácara do Tio Boquinhas - uma propriedade não muito longe de nossas casas. Nossa rua não possuía saída, havendo, em sua extremidade, uma espécie de cume, de cerca de um metro e oitenta centímetros de altura, que ao descê-lo dava acesso ao terreno. A tal chácara tinha um aspecto abandonado, pelo menos dois terços do espaço estava coberto de árvores e um mato denso e bastante alto. Estávamos planejando essa missão há algumas semanas, após muita insistência de Eduardo. Ele, sendo o mais velho, era o único que podia se afastar mais da vizinhança e havia garantido que do outro lado da chácara havia uma saída de fácil acesso e que, portanto, não havia razões para que nada desse errado. Ou pelo menos, foi nisso que ele nos fez acreditar.
A primeira mentira foi referente a propriedade. Eu não fazia ideia de que meu amigo havia mentido ao afirmar que a chácara não apenas parecia estar abandonada, mas que ela realmente estava. Nós havíamos espionado a propriedade usando binóculos, a partir do cume na extremidade da nossa rua, diversas vezes, por isso não vi motivos para não crer na palavra dele; no entanto, o cão de guarda que encontramos ao tentar sair da chácara afirmava o contrário. A segunda mentira daquele dia foi o líquido grudento (que hoje desconfio ter sido água com sabonete) que ele trouxe e nos fez passar, assegurando ser uma espécie de repelente para mosquitos; até hoje me recordo das feridas causadas pelos pernilongos daquele lugar. A terceira foi a terrível surpresa que tivemos, após levarmos cerca de meia hora atravessando aquele matagal, ao nos depararmos com uma cerca de arames farpados, aparentemente instranspassável, do outro lado; Eduardo tinha um alicate na mochila, mas nenhum de nós permitiu que ele danificasse a cerca, portanto fomos obrigados a retomar o caminho pelo qual havíamos vindo. Depois de todos os transtornos e a revolta para com o líder impostor, sofremos o já mencionado ataque do cão de guarda. Alguém certamente deve ter ouvido nossa discussão e soltado o cachorro.
Felizmente, já estávamos próximos do cume e conseguimos todos nos salvar. Eduardo, no entanto,  foi o último a subir e perdeu uma de suas botinas para o cão que visava abocanhar seu pé. Teve apenas um ferimento superficial que não o impediu de correr como um desvairado, mesmo sabendo que já estávamos seguros. O alívio foi passageiro, entretanto, pois a partir daí as coisas só pioraram. A mãe dele logicamente percebeu, ao vê-lo chegar em casa suado, machucado, e sem um par dos calçados, que ele não havia passado a tarde na casa de um colega estudando. Não havia mentira que o salvasse dessa vez. A verdade veio à tona, e não afetou somente a ele, a senhora Cacilda fez questão de avisar os pais de todos os envolvidos no esquema de invasão de propriedade. Todos foram postos de castigo, obviamente. Os dias quentes, encarcerados, cheios de coceiras devido às picadas de mosquitos, serviriam para uma longa e penosa reflexão. Cheguei a conclusão de que certas mentiras realmente não valem à pena, mesmo que elas sejam o modo mais fácil de alcançar nossos objetivos, e que amigos que mentem demais para os outros, podem muito bem estar enganando você também.

O tortuoso caminho do desenvolvimento da escrita

Aluno 172
1 Versão


O processo de aprendizado da escrita dá-se de forma longa e gradativa. Passamos por diversas etapas até nos vermos capazes de expressar nossas ideias através da escrita de maneira coerente. Completada a alfabetização, entramos em um extenso estudo de gramática, a fim de nos inteirarmos das regras e dos conhecimentos que serão exigidos em nossas futuras produções textuais. A promessa da necessidade do domínio desse saber nos sendo relembrada constantemente, mas raramente sendo exigida e praticada com tamanho afinco no presente.

            Logo que somos capazes de compreender o básico da escrita e da leitura, a escola nos familiariza com textos dissertativos-expositivos, tornando cotidiana a tarefa de transpassar instruções e resumos escolares em nossos cadernos, de modo que tenhamos um material para consulta quando necessário. Contudo, apesar de ter ciência da necessidade de habituar a criança com o ato de escrever, e saber que a prática a partir da cópia de textos da lousa é um método que, até então, se mostrou eficiente, acredito que há uma falta de incentivo para que o aprendiz produza textos por conta própria, com o único objetivo de exercitar sua criatividade. Desde as séries iniciais, há uma exigência muito maior em cima do conhecimento gramatical, o que, além de negligenciar o desenvolvimento da capacidade criativa, contribui para a formação de jovens que se sentem inseguros na hora de expressar seus pensamentos e pontos de vista no papel.

            Pessoalmente, posso afirmar que fui, de fato, alfabetizada com êxito e que, de um modo geral, não tive muitas dificuldades para aprender as regras da língua portuguesa. Todavia, a minha relação com a produção textual foi um pouco diferente e o caminho que percorri até me sentir parcialmente familiarizada com a prática da escrita criativa - crônicas, contos, poesias e textos dissertativos - fora longo e laborioso. O curso preparatório para vestibular que frequentei foi o espaço onde finalmente fui capaz de derrubar algumas das muitas barreiras que impediam-me de expressar claramente minhas ideias e, hoje, posso declarar com convicção que a presença de um profissional da educação que nos transmita segurança e nos incentive a fazer sempre o melhor, é fundamental. Sou eternamente grata a minha professora de redação por isso.

            Em suma, escrever não é, de maneira alguma, uma tarefa fácil. Não quando o objetivo dessa escrita é alcançar o patamar exigido por uma determinada comunidade discursiva; articular nossa opinião de maneira singular e convincente é um verdadeiro desafio, independente da questão a ser discutida. A leitura é um artifício indispensável no desenvolvimento dessa habilidade, e foi, sem dúvidas, uma das minhas maiores aliadas. Entretanto, sem muita prática e críticas construtivas, dificilmente somos capazes de progredir. Eu, certamente, não seria.


























Parecer_172

Proposta 1


A proposta da tarefa levanta o questionamento: “como você começou/aprendeu a
escrever?”. Portanto, o que se espera é que, ao final do texto, o leitor possa entender e
responder a essa pergunta. Note, no entanto, que você prioriza falar sobre escrever,
abordando vagamente sua experiência. O seu título propõe que a unidade temática seja o
caminho do desenvolvimento da escrita, mas isso aparece de forma abstrata.

Seus dois primeiros parágrafos são impessoais: você aborda o processo de
aprendizado da escrita no âmbito escolar. Note que não há nenhum dado sobre sua
experiência. O interlocutor pode, então, perguntar-se: afinal, como ela aprendeu a
escrever? Essa resposta parece surgir no terceiro parágrafo, mas você fornece poucas e
abstratas e informações. Ao concluir, você retoma a impessoalidade para refletir sobre o
que é escrever, adicionando a informação de que a leitura foi uma aliada no seu
processo de aprendizado.

Minha sugestão é que você pense sobre um fato; acontecimento; tema que
gostaria de discutir, que tenha ligação com sua iniciação à escrita. Por exemplo, você
acredita que, de fato, aprendeu a escrever no curso preparatório para o vestibular?
Digamos que sua resposta seja sim. Então você poderia desenvolver todo seu texto a
partir desse fato, fornecendo informações que façam o interlocutor imaginar você,
realmente, aprendendo a escrever nesse momento.

Outra referência a qual noto uma ênfase é quanto ao papel do professor para que
você aprendesse a escrever. Quem sabe essa possa ser uma ideia central do seu texto?
Se for, você pode desenvolver o fato de aprender a escrever devido aos profissionais
que te guiaram a isso. Sempre levando em conta que o interlocutor deve chegar ao final
e poder dizer: entendi como ela aprendeu/começou a escrever!

Destaco que não há a necessidade de apresentar sua trajetória do início ao fim,
ou seja, todo o caminho pelo qual passou para aprender a escrever. Essa ideia, aliás,
pode ser confusa para um texto, pois pode fazer com que se fale sobre várias
experiências, mas nenhuma interessante, relevante. Enfim, é necessário que haja um

tema central e – somente – a partir disso é que as informações surgem, conversando

Como comecei a escrever

Aluno 172
Reescrita


Minhas mais remotas lembranças envolvem a leitura. Ainda recordo-me das tardes, aos cuidados de minha avó, como se fossem ontem. Demasiado nova para decifrar por mim mesma o universo por trás do objeto que ela segurava, eu a fitava pelo canto dos olhos, logo perdendo o interesse pelo brinquedo que tivesse em mãos ao vê-la tão compenetrada, o olhar perdido no que quer que ela estivesse fitando. Eu sempre a via em posse de algum livro, em determinado momento do dia. Como toda criança, eventualmente fui tomada pela curiosidade e, sentindo-me compelida a descobrir do que a estória se tratava, sentei-me ao seu lado, o braço da nossa velha, porém confortável poltrona, servindo-me de acento. Qual fora minha surpresa, no entanto, ao me deparar com a completa ausência de ilustrações. “Que tipo de livro não possui nenhuma gravura ou desenho?” pensei comigo mesma, atônita, sem compreender como apenas aquelas palavrinhas todas, que para mim não faziam sentido na época, poderiam dar conta de prender o interesse e proporcionar tanto fascínio a uma pessoa. Evidentemente, eu viria a desvendar esse mistério muito em breve.

 As sessões de leitura em voz alta logo tornaram-se um hábito. Nós nos sentávamos na mesma poltrona, nosso lugar predileto, acompanhadas de um café com leite morno, talvez uma fatia de bolo caseiro; uma, ávida para saber o que estava por vir, quais palavras novas - e enigmáticas - seriam descobertas; a outra, encantada pelo interesse que havia despertado naquela menina tão novinha, que aos seus cinco anos de idade, sem sequer realmente compreender o que era dito, via-se tão cativada. Afinal, Dom Casmurro, O Apanhador no Campo de Centeio, A Ilha do Tesouro, entre outros títulos, não são exatamente o tipo de leitura indicados a uma criança. Entretanto, isso não impediu que um elo fosse formado.

Até hoje, não sei explicar exatamente como isso aconteceu. Não recordo-me qual fora o primeiro “livro de adulto” que ela lera para mim, capaz de incitar todo esse encantamento, e tenho a impressão que muitos fatos narrados foram levemente distorcidos para o meu entendimento - ou talvez por não serem exatamente adequados a minha faixa etária. Sendo completamente honesta, rememoro muito pouco do conteúdo das estórias que me foram contadas, mas se há uma coisa que recordo, é o som da voz de minha avó, sempre calma e terna, mas ao mesmo tempo animada, capaz de fazer as mais divertidas entonações ao ler, e seu toque cuidadoso, virando as páginas com a mesma gentileza que acariciava meus cabelos. Talvez tenham sido esses pequenos detalhes que me cativaram ou talvez eu quisesse ser capaz de experimentar tudo de bom que eu achava que ela sentia ao ler um livro. Talvez, como toda criança, eu só quisesse ser como alguém que eu amava e admirava.

Efetivamente, entretanto, o tempo destinado às nossas leituras já não era mais suficiente para me satisfazer. Não foram poucas as vezes que fui flagrada em algum cômodo da casa, com um livro aberto sob o colo, tagarelando sozinha sobre as supostas aventuras que estariam ali escritas. Eu não só estava ansiosa para aprender a decifrar todos aqueles símbolos por mim mesma e poder ler tudo que estivesse ao meu alcance, como também não via a hora de ser capaz de escrever minhas próprias estórias e transpassar no papel toda a imaginação que uma criança possui. Logo, não é uma surpresa o fato de que começar a estudar e ser alfabetizada foi uma conquista repleta de gratificação para mim. Para mim e para minha avó, que esteve sempre muito presente nesse âmbito de minha vida.

Creio ter sido assim que meu gosto pela escrita nasceu. Ou melhor dizendo, meu gosto pelas palavras, que podem ser tanto escritas, quanto lidas e cantadas. Eu definitivamente me apaixonei pelas palavras, pela sua estrutura, variações e significados. O lápis e o papel tornaram-se meus grandes companheiros e aliados, toda e qualquer oportunidade eu usava para escrever: felicidades, desilusões, qualquer acontecimento. Fosse sobre meus sonhos ou meu dia a dia, definitivamente, no papel, eu os eternizaria. Em suma, fora diverso meu aprendizado. Repleto de tropeços, frustrações e insegurança, mas acima de tudo, de um prazer inexplicável. Os erros cometidos nos ditados e nas redações, os eventuais risinhos dos colegas em sala de aula, a aparente falta de suporte no meio escolar, a insatisfação com o resultado de um projeto com o qual eu havia me dedicado, nada disso fora capaz de abalar completamente o elo que há muito havia sido criado.

E por fim, acima de tudo, eu sempre teria uma pessoa especial a quem recorrer, que sentaria ao meu lado e, com um sorriso sincero, me asseguraria que não há mal algum em cometer erros e que eu possuía, ainda, uma longa estrada a percorrer. Nossa antiga poltrona não mais existia, mas nada nos impedia de retomar aquele lindo e velho hábito. Mas dessa vez, com algumas mudanças. A narradora seria eu, que além de ler obras para nós duas, exporia minhas próprias autorias. O olhar nervoso no papel, desviando rapidamente em busca do dela, à procura daquele antigo encantamento que tão bem eu reconhecia e percebendo, além disso, um doce olhar que me transmitia uma satisfação sublime, que contagia.

O caderno amarelo

Aluno 174
Reescrita


Eu achei um pequeno caderno amarelo. Nele haviam pensamentos e pequenas histórias. Porém, não havia nome. Como eu ia saber de quem era para devolver? E será que eu queria devolver? Eu gostei daquelas histórias e anedotas que me reconfortaram de alguma forma. Não estava tendo um dia bom e aquele encontro com o caderno na sala de espera do consultório foi a melhor coisa que poderia ter acontecido. Em cada página havia um pequeno desenho que ia se completando com o meu folhear. Frases perspicazes que me traziam sorrisos no rosto. Pequenas histórias que me faziam sair da sala branca com várias portas amarelas e duas janelas azuis e retornar a infância e a simplicidade dos seus dias.
O desenho completo formava dois rostos com traços simples e marcantes. A expressão de cada um era diferente, mas ambos estavam felizes. O rosto da esquerda era mais novo e usava um óculos. O da direita era mais velho, com marcas de expressão e uma pequena mancha ao lado da boca. Um fato curioso é que eu não conseguia fazer a distinção de homem ou mulher e parecia que eu já os havia visto por ai.
O caderno amarelo trazia mistérios além dos desenhos. As frases me remetiam coisas boas e me proporcionavam pensamentos questionadores, dúvidas que eu não tinha há muito tempo. Como na música do Marcelo Camelo que estava transcrita ali, me perguntava se "Foi só amor ou medo de ficar sozinha outra vez?". Quando eu parei de "Doar felicidade nas pequenas coisas"? E será que "Você já pensou que talvez tenha ido longe demais?". As frases me trouxeram reflexões muito maiores: eu fui longe demais? Como anda a minha vida? Por que eu vivo desta forma e não de outra? Quando olhar para os lados deixou de se tornar importante? Sou superior aos outros, por isso não sou empática?  Por que eu tive que achar um caderno para notar algo além de mim? Onde é que eu estou nos caminhos da vida?
Curioso como esse caderno me fez pensar tanto, durante tão pouco tempo, comecei a observar o espaço em que eu estava e percebi olhares e situações que antes me deixavam feliz e um tanto intrigada. Um senhor sentado jogando damas no celular (fiquei sabendo porque ele estava gritando com a "máquina do demônio"), uma mãe e um filho de costas observando uma fotografia da Anne Guedes, um homem tentando chamar a atenção de um pássaro na janela, momentos simples e pequenos que eu já não percebia mais. 
Olhei novamente para o caderno e me questionei, quem poderia ter deixado isso aqui? Penso que deveria devolvê-lo, mas também penso que invadi o espaço pessoal da pessoa ao ler suas confidências. Fico com essa dúvida na cabeça e acabo notando que a mãe e o menino haviam sentado em cadeiras que estavam vazias ao meu lado. Percebo que conheço eles de algum lugar, o óculos e a mancha ao lado da boca. Eles são os desenhos. Eles são as histórias. Eles são o caderno amarelo que tanto me encantou. 
Ao perceber isso, me aproximo dos dois e tento entregar a eles o caderno. A mulher diz que não sabe o que é e o menino confirma com a cabeça. Logo depois, eles são chamados pela Dra. Alvarenga e eu fico com o caderno. De quem será então? Quem me fez pensar em tudo o que eu sou e quem vou ser? A pessoa deve estar ali em algum lugar. Continuo pensando e coloco o caderno amarelo em cima da mesa de centro, pensando que ninguém ia pegar. 
Começo a perceber que eu mudei nesse meio tempo em que folheei o caderno. Os questionamentos trazidos surtiram um efeito. Notar alguém além de mim mesma havia transformado o meu pensamento.  As minhas perspectivas estavam mudando, queria as novas experiências que o mundo poderia me proporcionar, assim como a descoberta das frases e desenhos no caderno amarelo.  Divago sobre o que eu mudarei em mim assim que sair do consultório, como eu gostaria que a minha vida fosse a partir de agora. Minhas atitudes teriam que mudar, seria mais solicita com as pessoas, observá-las melhor e notá-las, como quem possui o caderno fez. Eu esperava que desse certo, que a vida mudasse para melhor.
Nisso, a moça da limpeza entra no consultório varrendo o chão e observando os arredores. Ao sair das minhas divagações, percebo que ninguém a nota, todos continuam fazendo suas coisas um tanto inúteis. Em alguns momentos, ela tenta sorrir para alguém, porém não acha ninguém que olhe para ela. Durante um segundo ela vira para mim e eu olhando para ela, sorrio. A sua expressão muda completamente, fica radiante. Volto aos meus pensamentos de mudança e quase não noto quando ela pega o caderno da mesa e coloca no seu bolso. 

Parecer_174

Proposta 2


O seu texto conta um relato de algo que aconteceu com um desconhecido, mas o seu aprendizado não é claro. É uma história peculiar e a maneira que é narrada é interessante, no entanto são necessários alguns ajustes para que o interlocutor não fique confuso ao realizar a leitura.  
Existem três elementos da narração que precisam estar com informações claramente expostas no texto, são eles: personagem, tempo e espaço/cenário. Em seu primeiro parágrafo você já começa a desenvolver o fato principal do seu texto, até aí tudo bem, porém eu sugiro que você fale mais sobre o cenário para que o leitor não se sinta perdido, já que somente no sexto parágrafo você informa que o acontecimento se passa em um consultório.  
No seu terceiro parágrafo você diz “O caderno amarelo trazia mistérios além dos desenhos. As frases me remetiam coisas boas e me proporcionavam pensamentos
questionadores, dúvidas que eu não tinha há muito tempo”, como sugestão, eu diria para você dar exemplos de frases e desenhos que lhe fizeram gerar tantos questionamentos. Lembre-se de que você deve “mostrar” os fatos por meio de exemplos concretos para que o leitor crie uma imagem do que você está falando no texto.
 O texto contém várias intervenções do narrador no relato, para que não fique confuso, tente marcar bem a diferença entre o relato e as reflexões próprias do autor. Por exemplo, no quinto parágrafo, você começa falando sobre alguns questionamentos que estão na sua cabeça e, de repente, “vejo que a mãe e o menino sentaram ao meu lado”. Desenvolva mais como aconteceu esse processo para que o leitor note essa mudança na narração. Você poderia, por exemplo, falar “foi então que percebi que os dois bancos ao meu lado que, antes estavam vazios, agora estavam ocupados por uma mãe com seu filho”.  
O seu último parágrafo é quando o questionamento inicial é solucionado, porém o seu aprendizado não aparece claramente. O que você aprendeu com o fato da dona do caderno ser uma servente de limpeza e desenhar os pacientes que passam ali pelo consultório? Essa resposta, a meu ver, não é respondida, escreva mais sobre isso.  

Boa reescrita!