sábado, 3 de junho de 2017

Prazer, Júnior!

Aluno 166
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Os modelos de gênero, menino e menina, nos são cobrados desde o momento em que deixamos a barriga de nossas mães, nosso “lar anatômico” – como costumávamos brincar nas aulas. Meninas devem deixar o hospital de rosa e meninos de azul, meninas só podem brincar de boneca e meninos de carrinho, meninas devem cuidar dos seus cabelos, suas unhas, das suas casas e filhos e meninos, vocês, no sentido econômico, devem sustentar isso. Claro que, hoje em dia, essas pressões são um pouco menores, mas as pressões para assumir nossa identidade e orientação estão sempre fortes ao nosso redor.
Há mais ou menos 3 anos conheci Marcos ou, como ele costuma falar: “Júnior para os íntimos”. Nos conhecemos durante uma aula de anatomia na minha antiga faculdade de radiologia, daquela aula pra frente nos aproximamos cada vez mais e tive a oportunidade de conhecer um pouco mais da história de Júnior. Ah, sim! Ganhei o direito em poder o chamar de ‘Júnior’, isso menos de duas semanas depois.
Júnior nasceu Mariana. Nasceu com o corpo feminino, mas sempre teve fascinação e desejo pelo universo masculino. Por volta dos 6 anos, ele contou, fez um pedido de aniversário quando soprou as velinhas no topo do seu bolo do Homem-Aranha: queria virar um menino. Seus pais só foram ter conhecimento desse desejo 4 anos depois, aos 10 anos de idade, quando, depois de muita conversa e busca de informação profissional, começou a passar por sua transformação.
O processo não foi rápido, na verdade ele ainda nem acabou. Começou com a mudança de visual, o tratamento hormonal, a busca dos direitos de uso do nome social e a incansável espera na lista do serviço público para fazer a cirurgia de redesignação, a mudança de sexo. “É difícil!” sua mãe me revelou durante uma conversa uma vez, “mas é quem ele é”. Nem Junior e nem a família pensaram, em momento algum, desistir.
Mas como conhecer Junior mudou minha visão das coisas e, principalmente, de mim mesma? Sempre tive grande dificuldade em me aceitar, achava que não me encaixava nos padrões da sociedade – beleza, altura, peso, idade, sexualidade... – mas depois de conhecê-lo percebi que quem impõe padrões somos nós mesmos. Quem mais nos pressiona somos nós. Se não estamos contentes podemos mudar, mas não por outros, não para agradar terceiros, mas sim para estarmos bem conosco e conviver em paz com o nosso “eu”.

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