sábado, 3 de junho de 2017

Significados de uma cultura

Reescrita
Aluno 183



Fui visitar alguns parentes em agosto de 2015 na cidade de Caxias do Sul. Lá me levaram para conhecer a praça central da cidade, a praça Dante Alighieri, e logo avistei um homem, negro, alto, vestindo roupas coloridas e finas para o inverno da serra, ele vendia algumas bijuterias feitas à mão e então fui olhá-las,
      No local já havia duas mulheres, com aparência de vinte e poucos anos, rindo e passando as bijuterias artesanais sem nenhum cuidado e depois jogavam-nas de volta para o rapaz, desdenhando daquele trabalho. Falei para as moças terem cuidado, pois podiam estragar, elas responderam: “Grande coisa, quem vai querer comprar essas coisas exóticas? Ele acha que inventando baboseiras sobre essas porcarias vamos gastar nosso dinheiro nisso, me poupe!” e saíram antes que o rapaz pudesse responder e que eu pudesse entender o que elas diziam. Ele, com um rosto triste após o ocorrido, me olhou e disse, me vendo constrangida com a situação, “Tudo bem, já estou acostumado”, nesse momento percebi pelo sotaque que o rapaz era estrangeiro e prontamente respondi: “Não dê atenção a o que elas falaram, seus artesanatos são lindos”, muito diferentes do que costumasse ver nas lojas de shopping ou lojas do centro da cidade, mas de fato lindos, ele agradeceu meu elogio, então me senti à vontade para perguntar para ele o que as mulheres queriam dizer com “inventar baboseiras”, ele respondeu-me que isso aconteceu porque elas não acreditavam no significados das pedra “Cada uma das pedras dos colares têm um significado no meu país, e eu expliquei alguns deles para elas e daí começaram a rir como se o que eu contei fosse mentira”. Fiquei muito curiosa nesse momento, queria perguntar muitas coisas sobre ele e sobre os significados dos colares, mas acabei perguntando primeiramente de onde ele vinha, ele disse que vinha do Senegal e se apresentou como Fela.
      Fela começou a me explicar que não o levavam a sério no Brasil, tudo nele virava motivo de piada. Suas roupas coloridas, por exemplo, já eram um sinal de que não era daqui e por isso as pessoas passavam por ele gritando “Volta pro teu país.”, “Vai roubar emprego em outro lugar.”. Contou-me também, que quando chegava nas pessoas, almejando conseguir clientes, ia explicando os significados das pedras como curiosidade, para ver se interessaria a elas, porém diziam a ele muitas vezes: “Isso é bobagem, rapaz! Não existe nada dessas superstições tuas aí”. Falei que acreditava no que ele falava e que queria saber os significados das pedras para escolher alguma para mim, após me mostrar algumas, ele me alcançou um pedra polida lilás, que tinha como significado amizade e empatia, sugeriu-me que levasse essa. A essa altura minha família já estava apressada para me mostrar outros lugares. Comprei o colar, agradeci, disse a ele: “Seu trabalho é lindo, acredite nele, acredite nas suas crenças e na sua cultura!” e fui embora.
      Enquanto comia um lanche e minha família discutia se alugariam uma casa no Cassino ou em Tramandaí naquele ano, eu pensava sobre aquela figura que tinha conhecido, Fela, realmente, tinha me marcado. Eu, na verdade não acreditava nos significados das pedras, mas aquilo significava muita para ele e para sua cultura, e isso era o mais importante, pois o valor cultural daquele artesanato era inestimável e entendi que a realidade de cada pessoas nova que conhecemos é extremamente valorosa.

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