sábado, 3 de junho de 2017

Um Segundo do Infinito

Aluno 184
Reescrita




            Todos dizem que há momentos na vida em que o tempo praticamente para, como se fosse uma gota de água tentando se desvencilhar do que a prende no bico da torneira. Digo que isso é verídico, e o que ocasionou isso pra mim foi uma morte.
            Julho, férias de inverno da faculdade, segunda feira, noite. Combino com amigos de sair para jantar, visto que estávamos todos de férias e à toa. Possuo um carro, então obviamente digo "passo para buscar vocês em quinze minutos.", como sempre, afinal, é para isso que carro serve. Busco o primeiro, o segundo, o terceiro... "então, onde vamos jantar?". Dessa forma nos encaminhamos para uma pastelaria. Segunda-feira. Fechada. Tentamos um cachorro quente: segunda-feira, não abre. Fomos então para uma famosa lancheria da zona sul de Porto Alegre: o Xis do Gelson.
            Tomo então a rua Otto Niemeyer, via de sessenta quilômetros por hora. Conversando com meus amigos e (admito) um pouco distraído, me pego de surpresa com um cachorro no meio da rua. Cachorro de porte médio, acho que era um Labrador. Engraçado como cachorros parecem crianças: tão inocentes, despreocupados, carinhosos.  Afundo o pé no freio e manobro bruscamente o carro, enquanto todos se assustam (inclusive eu) sem saber o que houve. "Ufa!", pensei. Porém, assustado, diminuo a velocidade com que dirijo e, mais atento, continuo meu trajeto. Chego então em uma parte da avenida em que há um pouco menos de iluminação na rua, por ter mais árvores talvez e ok, penso comigo mesmo que o pior já passou e começo a me acalmar um pouco, retomando a velocidade da via.
            Como um raio, um novo cachorro dispara de um dos condomínios da via NA FRENTE do meu carro. Eis então o pior segundo da minha vida. Penso em pisar no fre... BUM. Ouço o som dele rolando na roda, ouço seu choro, seu ganido. O carro em movimento de freada, volto a acelerar achando que tudo vai passar mais rápido - não passa. Quando tudo acaba paro o carro e peço para o meu amigo ir ver a situação. Ele volta, diz que o cachorro não está lá, e eu soube naquele momento que ele estava mentindo para me poupar. Meus amigos assustados, uma chorando, diziam que não tinham visto nada, mal viram o cachorro, enquanto eu afirmo "tinha pelo compridinho, branco com marrom, era um Shitzu.".
            Não consigo mais dirigir a noite inteira e meu amigo toma o volante. A cena toda me atormentou durante uns três dias, mas o pior não foi a cena em si, foi eu pensar: poxa, ele saiu de um condomínio, e se tivesse sido um criança brincando de pega-pega? Uma criança inocente enquanto os pais distraídos conversam com amigos?
            Dia após dia entramos de manhã no carro para dirigir como se fosse apenas mais uma parte do dia, sem nos preocupar. Aos já motoristas, aqueles momentos em que você dirige no automático devem ser reduzidos ao máximo; afinal, basta dois segundos de uma mente distraída para ocasionar o que pode ser algo muito grave. Afirmo que nesse um segundo infinito aprendi o que é ter uma arma de quatro rodas.
            

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