Aluno 184
Reescrita
Todos dizem que há
momentos na vida em que o tempo praticamente para, como se fosse uma gota de água
tentando se desvencilhar do que a prende no bico da torneira. Digo que isso é verídico,
e o que ocasionou isso pra mim foi uma morte.
Julho, férias de inverno da faculdade, segunda feira,
noite. Combino com amigos de sair para jantar, visto que estávamos
todos de férias e à toa.
Possuo um carro, então obviamente digo "passo para buscar vocês em
quinze minutos.", como sempre, afinal, é para
isso que carro serve. Busco o primeiro, o segundo, o terceiro... "então,
onde vamos jantar?". Dessa forma nos encaminhamos para uma pastelaria.
Segunda-feira. Fechada. Tentamos um cachorro quente: segunda-feira, não
abre. Fomos então para uma famosa lancheria da zona sul de
Porto Alegre: o Xis do Gelson.
Tomo então a rua Otto Niemeyer, via de sessenta quilômetros
por hora. Conversando com meus amigos e (admito) um pouco distraído, me
pego de surpresa com um cachorro no meio da rua. Cachorro de porte médio,
acho que era um Labrador. Engraçado como cachorros parecem crianças: tão
inocentes, despreocupados, carinhosos.
Afundo o pé no freio e manobro bruscamente o carro,
enquanto todos se assustam (inclusive eu) sem saber o que houve.
"Ufa!", pensei. Porém, assustado, diminuo a velocidade com que
dirijo e, mais atento, continuo meu trajeto. Chego então em
uma parte da avenida em que há um pouco menos de iluminação na
rua, por ter mais árvores talvez e ok, penso comigo mesmo que o
pior já passou e começo a me
acalmar um pouco, retomando a velocidade da via.
Como um raio, um novo cachorro dispara de um dos condomínios
da via NA FRENTE do meu carro. Eis então o
pior segundo da minha vida. Penso em pisar no fre... BUM. Ouço o
som dele rolando na roda, ouço seu choro, seu ganido. O carro em movimento
de freada, volto a acelerar achando que tudo vai passar mais rápido -
não passa. Quando tudo acaba paro o carro e peço para
o meu amigo ir ver a situação. Ele volta, diz que o cachorro não está lá, e eu
soube naquele momento que ele estava mentindo para me poupar. Meus amigos
assustados, uma chorando, diziam que não
tinham visto nada, mal viram o cachorro, enquanto eu afirmo "tinha pelo
compridinho, branco com marrom, era um Shitzu.".
Não consigo mais dirigir a noite inteira e meu
amigo toma o volante. A cena toda me atormentou durante uns três
dias, mas o pior não foi a cena em si, foi eu pensar: poxa, ele
saiu de um condomínio, e se tivesse sido um criança
brincando de pega-pega? Uma criança
inocente enquanto os pais distraídos conversam com amigos?
Dia após dia entramos de manhã no
carro para dirigir como se fosse apenas mais uma parte do dia, sem nos
preocupar. Aos já motoristas, aqueles momentos em que você
dirige no automático devem ser reduzidos ao máximo;
afinal, basta dois segundos de uma mente distraída
para ocasionar o que pode ser algo muito grave. Afirmo que nesse um segundo
infinito aprendi o que é ter uma arma de quatro rodas.
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