Aluno 156
1 Versão
No começo eram só alguns pequenos tesouros
enterrados, que, reluzindo uma pontinha na terra, volta e meia eu desenterrava.
Um ditado aqui, uma redação ali. Assim eu começava a escrever, despretensiosamente.
E todo esse processo se limitou por anos a fio a produções puramente
“escolares” e pequenas histórias inventadas. Até que, não recordo bem a data,
lá pela sétima ou oitava série a professora de Língua Portuguesa nos apresentou
o gênero textual crônica e, como exercício, nos pediu que produzíssemos nossos
próprios textos.
A partir daí descobri que podia escrever meus
sentimentos no papel. Foi meu primeiro contato com a noção de que um texto é
moldado por todo um contexto muito maior que abrange inúmeros conhecimentos,
ainda que eu não pudesse nomear e descrever tais conceitos na época. Depois,
com a chegada do Ensino Médio e da Literatura, minhas produções começaram a ter
outros padrões, outras visões, outras cores, outros propósitos.
Mas foi só com o “Entreteias” que me dei conta de
que os sentimentos e as visões não estavam cristalizadas no papel, mas tão
vivas quanto estavam dentro de mim. Foi por conta desse projeto de pesquisa,
proposto pela professora de Literatura e executado com uma amiga de outra
turma, que tivemos o prazer de receber dos correios, em uma manhã, uma caixa
com versões físicas de nossos livros de crônicas, as quais foram compradas
pelos nossos professores e apoiadores. Um ano mais tarde esta amiga ainda
lançaria seu livro pela editora L&PM por indicação da Martha Medeiros em
pessoa, e eu desenvolveria o desejo de ser professor.
Ainda assim, só entendi um pouco mais sobre a
dimensão de um texto escrito quando minha psicóloga analisou minhas produções
para entendermos melhor alguns conflitos que aconteciam em minha vida. Tal ação
me abriu os olhos para entender que muito mais do que criador de textos e
dominador de palavras, estas é que moldam minhas visões, meus sentimentos,
minhas ações, me dão significado e me conectam com a realidade e com a
fantasia.
Eu me construo na medida em que ouço as vozes que
provém da criatividade e as transcrevo organizadas em uma unidade de sentido.
Ao mesmo tempo, tais vozes são sintetizadas a partir de leituras de mundo
anteriores e se modificam a cada dia. Escrever é um processo que pode se
estender ao infinito. É um processo que exige muita leitura antes de tudo.
Assim como é nossa construção: lendo, escrevendo e reescrevendo o tempo todo.
“Entre nós, vamos desenredando o enredo que somos.
Entretudo, nós somos as entreteias. Entreteias, estamos entrestrelas.
Entreteias, nos entresomos, nos entreamamos. Entretantos noticiários, desvios e
poemas de Ferreira Gullar, dizia Cazuza, ser o fim do mundo todo dia da semana.
Entretragos de poesia, a serenata de Juca não acordou Maria, Chico Buarque
dizia. Entretextos, pego o marca texto, nós somos intertextos.”
Trecho do texto de introdução do projeto
Entreteias: a crônica na teoria e na prática. Escrito por mim e por Sthefany
Lacerda.
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