Aluno 158
Reescrita
Todas as semanas, no
ensino fundamental, me chamavam na coordenação para reclamar dos meus rabiscos
na classe escolar. Chegou uma hora que eu obedeci, mas não durou muito. Sem
perceber eu começava a rabiscar desenhos, palavras e frases aleatórias na mesa
e eu realmente não sabia por que não conseguia parar, meus pais dizem que é
porque eu não sei ficar quieta. Até que ligaram para a minha mãe e ela não
acreditou que ligaram por esse motivo.
No final ela teve que concordar com a escola e
me contou a famigerada história (que ela fala até hoje) de quando eu risquei
todo o casaco de couro branco dela, eu devia ter uns cinco anos. Depois disso,
ela fez questão de mostrar todas as fotos de família, bonecas e paredes que eu
estraguei quando estava com uma caneta na mão. Assim, depois de várias
reclamações, ganhei um mural de canetas e um caderninho de folhas coloridas,
ela queria realmente que eu parasse de escrever nas coisas. A partir daí, todos
na minha família me diziam para escrever e desenhar no lugar certo, que assim
eu poderia admirar meu trabalho sempre.
Comecei, então, a escrever nessa folhas
coloridas. Eu escrevia tudo, qualquer coisa que vinha na cabeça e completava
com alguns desenhos que ganhavam duplo sentido de tão mal feitos. Inventava
histórias, usava como diário; descrevia lugares e coisas que eu gostava. Isso
durou algum tempo, e depois de muitas histórias começadas e nunca terminadas
ganhei meus primeiros livros. Fiquei completamente apaixonada por leitura e
acabei deixando meu caderno de lado.
Na metade do ensino médio achei o caderninho
no meio das minhas coisas, lembrei como gostava de escrever nele e passei a
usá-lo para reescrever as redações escolares do meu jeito, sem todo aquele
regramento. As classes da escola ficaram salvas. Entretanto, em 2014, na viagem
de formatura, eu deixei meu caderninho lá, no hotel, no meio do Uruguai.
Cheguei em casa realmente querendo voltar pra achar ele, certamente não fui.
Hoje eu voltei a escrever nas coisas, nas
paredes do quarto principalmente, e quando passei para o curso de Letras minha
mãe deu graças a deus que as paredes de casa voltariam a ser brancas. Errada
ela, porque quando perdi o caderninho achei que tinha perdido todas minhas
idéias também, mas percebi que escrever tudo - e em tudo- fez com que elas
ficassem gravadas para sempre em mim. Perceber a importância da escrita dessa
maneira deu vontade de ligar para a escola e agradecer.
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