sábado, 3 de junho de 2017

Papel na Parede:

Aluno 158
Reescrita


Todas as semanas, no ensino fundamental, me chamavam na coordenação para reclamar dos meus rabiscos na classe escolar. Chegou uma hora que eu obedeci, mas não durou muito. Sem perceber eu começava a rabiscar desenhos, palavras e frases aleatórias na mesa e eu realmente não sabia por que não conseguia parar, meus pais dizem que é porque eu não sei ficar quieta. Até que ligaram para a minha mãe e ela não acreditou que ligaram por esse motivo.
    No final ela teve que concordar com a escola e me contou a famigerada história (que ela fala até hoje) de quando eu risquei todo o casaco de couro branco dela, eu devia ter uns cinco anos. Depois disso, ela fez questão de mostrar todas as fotos de família, bonecas e paredes que eu estraguei quando estava com uma caneta na mão. Assim, depois de várias reclamações, ganhei um mural de canetas e um caderninho de folhas coloridas, ela queria realmente que eu parasse de escrever nas coisas. A partir daí, todos na minha família me diziam para escrever e desenhar no lugar certo, que assim eu poderia admirar meu trabalho sempre.
    Comecei, então, a escrever nessa folhas coloridas. Eu escrevia tudo, qualquer coisa que vinha na cabeça e completava com alguns desenhos que ganhavam duplo sentido de tão mal feitos. Inventava histórias, usava como diário; descrevia lugares e coisas que eu gostava. Isso durou algum tempo, e depois de muitas histórias começadas e nunca terminadas ganhei meus primeiros livros. Fiquei completamente apaixonada por leitura e acabei deixando meu caderno de lado.
    Na metade do ensino médio achei o caderninho no meio das minhas coisas, lembrei como gostava de escrever nele e passei a usá-lo para reescrever as redações escolares do meu jeito, sem todo aquele regramento. As classes da escola ficaram salvas. Entretanto, em 2014, na viagem de formatura, eu deixei meu caderninho lá, no hotel, no meio do Uruguai. Cheguei em casa realmente querendo voltar pra achar ele, certamente não fui.
    Hoje eu voltei a escrever nas coisas, nas paredes do quarto principalmente, e quando passei para o curso de Letras minha mãe deu graças a deus que as paredes de casa voltariam a ser brancas. Errada ela, porque quando perdi o caderninho achei que tinha perdido todas minhas idéias também, mas percebi que escrever tudo - e em tudo- fez com que elas ficassem gravadas para sempre em mim. Perceber a importância da escrita dessa maneira deu vontade de ligar para a escola e agradecer.

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