Aluno 174
Reescrita
Começou
com uma poesia. Para falar a verdade, começou com pequenas palavras que eu fui
juntando na minha cabeça enquanto saia do banheiro e caminhava em direção ao
meu quarto (que na minha casa estão a uns 5 passos de distância um do outro).
Palavras soltas que rimavam e formavam frases bonitas que eu sabia que poderiam
se transformar em algo legal. Algo que eu poderia mostrar e talvez me orgulhar.
Algo livre.
Entrei no quarto e procurei logo
uma folha de papel e um lápis para poder passar essa genialidade infantil que
eu havia formulado juntando umas palavras no cérebro. Escrevi rápido porque já
estava praticamente tudo pronto, uns acentos que faltavam, uma pequena troca de
palavras para rimar melhor e estava ali, o meu precioso poema. Após a
finalização, eu já queria mostrá-lo para o mundo, no caso, a minha mãe.
Ela o recebeu de braços abertos,
disse que estava muito bom e que eu deveria levar para a aula de português.
Seguindo os conselhos e encorajamentos de minha mãe, levei o meu caro poema e
mostrei a minha professora, ela gostou bastante e me perguntou se eu não
gostaria de declamá-lo no sarau da feira do livro da escola. Eu aceitei,
adorando o fato que as minhas palavras
iam entrar em contato com algo que eu sempre adorei, os livros, e que poderiam
ir mais longe, além da minha casa e da sala de aula. O meu poema-pássaro ia
voar.
Li o poema no sarau. Era noite,
havia um palco preto não muito grande na quadra de futebol, várias cadeiras
para pais e alunos. Para tapar a quadra, colocaram TNT preto com estrelas
brilhantes de papel laminado. Lembro da minha subida, uma pequena eu, um tanto
envergonhada, vendo alguns instrumentos e muitos microfones, tentando se
posicionar onde haviam demarcado. Tinha até acompanhamento musical para o
poema: um colega meu tocando um som baixinho no violão. Comecei a ler meio
nervosa, depois fui me acalmando, o transcorrer das palavras me gerou um
sentimento muito marcante e bom, como se eu estivesse voando. Finalizei o poema
com uma frase que me marca e é lembrada até hoje: "Ou melhor, a questão é
você quer imaginar?".
No final daquela leitura, eu me
senti livre. Talvez pelos aplausos que a plateia tenha me dado ou por ter
conseguido ler algo escrito por mim para várias pessoas. Foi uma sensação incrível
que marcou a minha relação com a escrita. A partir disso, eu escrevia o que me
vinha a mente por pura liberdade. Por saber que eu podia contar as minhas
histórias, os meus problemas, as minhas poesias, os meus voos para o além, o eu
que estava em mim e que precisava sair para o papel e que ele me escutaria,
guardaria para si ou mostraria para os outros com comentários reconfortantes
como "eu já senti isso" e "você colocou de uma maneira que eu
tentava há tempos".
Quem diria que algumas palavras que
pulavam nos meus pensamentos no decorrer do dia se transformariam em um poema
que eu carrego com carinho até hoje. Um poema que não marcou só a mim, mas
também aos meus colegas de aula que lembram de algumas frases que volta e meia
retornam ao nosso assunto. Foi o momento em que a escrita passou a ter um
sentido a mais para mim. Aquele poema-pássaro que além de voar, me fez voar.
Espero que os voos continuem e só cresçam a medida do tempo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário