segunda-feira, 5 de junho de 2017

O poema-pássaro

Aluno 174
Reescrita



Começou com uma poesia. Para falar a verdade, começou com pequenas palavras que eu fui juntando na minha cabeça enquanto saia do banheiro e caminhava em direção ao meu quarto (que na minha casa estão a uns 5 passos de distância um do outro). Palavras soltas que rimavam e formavam frases bonitas que eu sabia que poderiam se transformar em algo legal. Algo que eu poderia mostrar e talvez me orgulhar. Algo livre. 
Entrei no quarto e procurei logo uma folha de papel e um lápis para poder passar essa genialidade infantil que eu havia formulado juntando umas palavras no cérebro. Escrevi rápido porque já estava praticamente tudo pronto, uns acentos que faltavam, uma pequena troca de palavras para rimar melhor e estava ali, o meu precioso poema. Após a finalização, eu já queria mostrá-lo para o mundo, no caso, a minha mãe.  
Ela o recebeu de braços abertos, disse que estava muito bom e que eu deveria levar para a aula de português. Seguindo os conselhos e encorajamentos de minha mãe, levei o meu caro poema e mostrei a minha professora, ela gostou bastante e me perguntou se eu não gostaria de declamá-lo no sarau da feira do livro da escola. Eu aceitei, adorando o fato que  as minhas palavras iam entrar em contato com algo que eu sempre adorei, os livros, e que poderiam ir mais longe, além da minha casa e da sala de aula. O meu poema-pássaro ia voar.  
Li o poema no sarau. Era noite, havia um palco preto não muito grande na quadra de futebol, várias cadeiras para pais e alunos. Para tapar a quadra, colocaram TNT preto com estrelas brilhantes de papel laminado. Lembro da minha subida, uma pequena eu, um tanto envergonhada, vendo alguns instrumentos e muitos microfones, tentando se posicionar onde haviam demarcado. Tinha até acompanhamento musical para o poema: um colega meu tocando um som baixinho no violão. Comecei a ler meio nervosa, depois fui me acalmando, o transcorrer das palavras me gerou um sentimento muito marcante e bom, como se eu estivesse voando. Finalizei o poema com uma frase que me marca e é lembrada até hoje: "Ou melhor, a questão é você quer imaginar?". 
No final daquela leitura, eu me senti livre. Talvez pelos aplausos que a plateia tenha me dado ou por ter conseguido ler algo escrito por mim para várias pessoas. Foi uma sensação incrível que marcou a minha relação com a escrita. A partir disso, eu escrevia o que me vinha a mente por pura liberdade. Por saber que eu podia contar as minhas histórias, os meus problemas, as minhas poesias, os meus voos para o além, o eu que estava em mim e que precisava sair para o papel e que ele me escutaria, guardaria para si ou mostraria para os outros com comentários reconfortantes como "eu já senti isso" e "você colocou de uma maneira que eu tentava há tempos". 
Quem diria que algumas palavras que pulavam nos meus pensamentos no decorrer do dia se transformariam em um poema que eu carrego com carinho até hoje. Um poema que não marcou só a mim, mas também aos meus colegas de aula que lembram de algumas frases que volta e meia retornam ao nosso assunto. Foi o momento em que a escrita passou a ter um sentido a mais para mim. Aquele poema-pássaro que além de voar, me fez voar. Espero que os voos continuem e só cresçam a medida do tempo.  

Nenhum comentário:

Postar um comentário