Aluno 166
Reescrita
O processo de aceitação é um dos
momentos mais difíceis durante a adolescência. É o momento em que estamos nos
descobrindo e as cobranças impostas nos fazem tomar decisões precipitas em
relação a quem queremos ou vamos ser. A aceitação tem variáveis que merecem
atenção, a maior delas se refere ao processo de autoaceitação. E, como a
maioria dos adolescentes em crescimento emocional, passei dificuldades nesse
quesito, em me aceitar. Achava que não me encaixava nos padrões da sociedade –
beleza, altura, peso, idade, sexualidade... – mas conheci um ser incrível, que
me fez mudar de visão sobre as cobranças que eu impunha a mim mesma.
Há mais ou menos 3 anos conheci
Marcos, ou como ele costuma falar: “Júnior, para os íntimos”. Nos conhecemos
durante uma aula de anatomia, na minha antiga faculdade de radiologia. Daquela
aula para frente nos aproximamos cada vez mais e eu ganhei o “direito” em poder
chama-lo de ‘Junior’ menos de duas semanas depois. Tive a oportunidade de poder
conhecer melhor aquela pessoa que estava sempre feliz e brincando, e um pouco
mais da sua história.
Junior nasceu Mariana. Nasceu com
o corpo feminino, mas sempre teve fascinação e desejo pelo universo masculino.
Por volta dos 6 anos de idade, me contou, fez um pedido de aniversário quando
soprou as velinhas no topo do seu bolo do Homem-Aranha: queria virar um menino.
Seus pais só foram ter conhecimento desse desejo 4 anos depois, aos seus 10
anos de idade. Diz-se que o transexual já nasce com essa condição de possuir uma identidade de gênero diferente a designado
no nascimento e tem o desejo de viver e ser aceito como sendo do sexo oposto.
Depois de muita conversar e busca de informação profissional, junto com a ajuda
e apoio de sua família, Junior começou a passar por sua transformação.
O processo não foi rápido, na
verdade, ele ainda não acabou. Começou com a mudança de visual, depois veio o
tratamento hormonal seguida da busca pelos direitos de uso do nome social e
mais a incansável espera na lista do serviço público para fazer a cirurgia de
redesignação, a mudança de sexo. “É complicado!”, sua mãe me revelou durante
uma conversa em sua casa certa vez, “mas é quem ele é e não vamos deixar de
apoiá-lo ou ama-lo como nosso filho.”. Nem Junior e nem a família pensaram, em
qualquer momento, desistir de quem ele é.
Mas como conhecer Junior mudou
tanto minha visão das coisas e, principalmente, de mim mesma? Os padrões que
tanto são impostos pela sociedade são, na verdade, cobrados pro nós mesmos e é
aí que ele entra. Na sua autoaceitação aprendi a me olhar com outros olhos, com
os meus olhos. Claro que, nem sempre estou cem por cento contente com quem sou
ou como sou, mas para isso podemos nos moldar e mudar para nos tornarmos
pessoas melhores para nós mesmos. Quem e como somos não deve ser algo que foi
predefinido pela sociedade. A imagem de um “eu” do qual nos orgulhamos deve ser
vir a partir do momento em que ao nos olharmos no espelho estamos em paz com o
nosso reflexo. Não o externo, mas principalmente o interno.
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