sábado, 3 de junho de 2017

O amor que apelidei de liberdade.

Aluno 175
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Por mais que eu ainda não tenha conseguido assumir definitivamente uma definição de amor para mim em vinte anos, o atual significado dele na minha vida me deixa muito satisfeita por ter implicado um grande aprendizado apenas observando pessoas desconhecidas. Essa história é tão linda e singela que merece ser contada para que, talvez, assim como eu, outras pessoas queiram usar o fato como exemplo, tomando para si a minha atual definição de amor.
Eu sempre fui uma pessoa muito observadora e sociável, do tipo que ama sair para lugares onde estarão pessoas desconhecidas para serem observadas, nesse sentido não foi diferente quando Gabriela, minha melhor amiga que carinhosamente chamo de Gabi,  ligou num dia de semana qualquer me convidando para um churrasco que seria no próximo sábado à noite na sua casa, dizendo que iriam não só nossas amigas em comum, mas também outros amigos dela que eu ainda não conhecia, logo aceitei o convite e confirmei minha presença.
 Chegado o dia do churrasco, fui até a casa da Gabi e fiz o que sempre faço, já que não sou mais visita e me sinto em minha própria casa: entrei, peguei um copo com um pouco de cerveja e me juntei a uma roda de pessoas, algumas conhecidas e outras não, que conversavam e riam no fundo do porão, de modo que os vi e os ouvi desde a porta da entrada, fui muito bem recebida, cumprimentei a todos e me apresentei aos que não conhecia.
 Nesse momento, entre uma fala e outra observei um casal desconhecido no canto esquerdo, perto da porta por onde eu havia entrado: os dois falavam baixo, poucas luzes estavam acessas, de maneira que isso prejudicava a visibilidade, mas por suas feições e gestos rudes percebi que estavam discutindo, então continuei a observar, de modo que já estava alheia a conversa da roda feliz que me cercava, notei que o menino segurava o braço da menina e que ela se afastava cada vez mais. Discretamente, sai do ambiente divertido que me rodeava e procurei a Gabi, a encontrei conversando com duas amigas perto da churrasqueira, nesse momento a chamei e a levei para perto da cena que acabará de assistir, quando chegamos próximas do casal, minha melhor amiga suspirou profundamente e me explicou que aqueles eram seus amigos da faculdade, os quais eu ainda não conhecia e que o Paulo estava dando mais um de seus ataques de ciúmes com a Renata, porém aquilo já não parecia mais um simples ataque de ciúmes, pois, nesse momento Paulo parecia fora de controle, prestes a agredir a Renata, no entanto quando pensamos em tomar uma atitude Gabriel, cujo nome só fiquei sabendo depois de passada a confusão, que além de colega de faculdade do casal, era também melhor amigo de Renata, um pouco embriagado,  já falava algumas coisas que eu não conseguia escutar pelo volume da música e pelas conversas paralelas, então eu e a Gabi nos aproximamos para ouvir e se necessário resolver uma possível briga.
 A nossa intervenção não foi necessária, Gabriel na sua embriaguez falava coisas que imobilizaram Paulo e que deixaram Renata e os outros, que prestavam sua atenção na cena, emocionados: “ Paulo já chega dessa tua possessão, eu, como melhor amigo da Renata, não posso mais deixar que tu continue tomando ela como um objeto, como tua posse, afastando ela de tudo e todos, eu não sei o que amor, mas isso com certeza não é”, ele continuou: “ amor é quando tu encontra alguém tão especial que não quer interferir no ser dela, é quando tu prefere ficar de longe assistindo ela existir e isso implica em não tirar a liberdade, se tu fizesse isso veria a Renata na melhor versão dela: ela sendo ela, sem a tua imposição, veria ela sendo livre e querendo ficar contigo de verdade, porque isso sim é amor, é dar tanta liberdade pra pessoa que ela sente a necessidade de ficar perto de ti e ser livre contigo.” Quando Gabriel parou de falar eu notei que eu, Gabi e mais umas dez pessoas que paramos para ouvi-lo chorávamos em sintonia.
Gabriel parou de falar, largou seu copo e saiu correndo para o banheiro depois de seu desabafo, Paulo sem falar absolutamente nada, aparentemente envergonhado, e Renata, soluçando de tanto chorar, foram embora imediatamente e eu me vi alheia a qualquer movimento que houvesse na minha volta: músicas, conversas e risadas. Parei e fiquei pensando sobre aquele discurso de um amigo esgotado. E assim, naquela noite, que tinha tudo para ser banal, através do discurso do Gabriel sobre amor, eu aprendi a melhor definição desse sentimento entre todas as que ouvi até hoje: liberdade, por conseguinte me apossei carinhosamente desse significado e, hoje, quando perguntam a minha definição de amor, eu a conto através dessa história, dando, obviamente, todos os créditos aos protagonistas dela: o Gabriel, a sua amizade e a sua embriaguez que o fizeram escolher as melhores palavras para definir o amor sem limitá-lo.

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