Minha família é muito parecida, tanto no físico quanto no
gênio. Pálidos, meio rechonchudos, a maioria com olhos claros e pé grande. Não
sabemos pedir desculpa ou ser contrariados, mas damos nosso melhor para
conviver em relativa harmonia, pelo menos a maioria de nós.
Leandro, o meu tio, sempre foi
alguém impulsivo com um pai mais impulsivo ainda. Eram acontecimentos raros
quando ele e meu avô conseguiam trocar meia dúzia palavras sem, duas dúzias de
farpas em seguida. As brigas nunca passavam de discussões acaloradas em que no
final cada um ia pra um lado e no outro dia voltavam a se falar.
Isso era tão comum que ninguém
previu o que ia acontecer num dos churrascos de domingo. Tudo começou como
sempre, batatas pra salada cozinhando, carne sendo salgada e muita cerveja em
cima da mesa. Até a metade do almoço, entre um assunto e outro, os ânimos se
exaltaram ao ponto do meu avô e Leandro se levantarem derrubando as cadeiras
aos gritos tomados pela fúria.
O negócio foi tão feio que as crianças, eu e meus irmãos,
fomos expulsos da cozinha e escondidos no quarto. Depois de muitos gritos o
silêncio se instaurou na casa, a única coisa que conseguíamos ouvir eram nossas
próprias respirações abafadas.
Quando foram nos buscar no quarto só notei que as cadeiras
já estavam no lugar e meu tio não estava mais ali. Ele tinha ido embora. E
dessa vez não foi como nas outras, ele não voltou no outro dia, nem no
seguinte. Minha mãe me contou que ele tinha se mudado pra outra casa.
Demorou exatos quatro anos pra ele voltar a participar dos
churrascos de domingo. No entanto, nunca mais foi a mesma coisa entre ele e o
pai. Os dois não se olhavam, não trocavam palavras, era como se fossem
estranhos um ao outro.
Outro acontecimento que a minha família também não previu
foi o falecimento do meu avô no mesmo ano. Ataque cardíaco fulminante, dizia o laudo médico.
Ninguém estava preparado para perder aquele cabeça dura, muito menos Leandro,
que chorou por dias, arrependido de ter sido tão orgulhoso.
Ver meu tio magoado por não ter
feito as pazes com o pai me ensinou que a vontade de sempre ter razão e a
necessidade de demonstrar orgulho só prejudicam relações. Por causa disso, é
fundamental ceder para não se arrepender de não ter voltado atrás.
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